Um “sim” que pode significar uma nova vida. Há 23 anos, a campanha Doe de Coração, promovida pela Fundação Edson Queiroz, leva conscientização e empatia sobre o impacto da doação de órgãos, tecidos e medula óssea no Ceará e no Brasil. Milhares de vidas foram transformadas com iniciativas como essa, que educam e informam a população sobre como funciona o processo de doação no país.
As histórias de superação de pacientes que descobriram a necessidade de transplantes, seja de órgãos, tecidos ou medula óssea, são milhares espalhadas por esse imenso país. Uma das que mais comoveu os brasileiros nos últimos anos foi a da jornalista Mariana Alves (na foto em destaque acima), que atuava como repórter na TV Verdes Mares. Sua trajetória inspiradora de luta, perseverança e determinação foi tão marcante que acabou virando filme.
André Tôrres, transplantado de medula óssea e embaixador da Doe de Coração 2025. Foto: Ares Soares
A jornada de André Tôrres é uma das que mostram a força dessa corrente de solidariedade. Em junho de 2018, ele descobriu que tinha leucemia, no auge da carreira no setor de vendas. Os primeiros sinais foram febre persistente e dores de cabeça. André, que sempre foi dedicado ao trabalho, continuou a rotina, mesmo debilitado, até que, após mais de dez dias sem se sentir bem, decidiu procurar atendimento médico.
“Confesso que imaginava que era uma virose persistente”, relata. Após exames, o médico solicitou sua internação. “O clínico não quis se responsabilizar em dar detalhes, apenas disse que, possivelmente, eu tinha uma doença no sangue e que o ideal era me internar para que os exames fossem feitos rapidamente, porque talvez fosse um quadro grave”, recorda. Pouco depois, o diagnóstico foi confirmado por uma hematologista: leucemia.
O choque foi imediato. “Na hora, eu disse que não tinha, fiquei assustado. E foi a primeira coisa que aprendi: a notícia ruim também pode bater na sua porta”, conta. Ele precisaria de um transplante de medula, mas seus dois irmãos não eram compatíveis.
“Quando não se encontra um doador na família, busca-se um voluntário no banco de dados do REDOME (Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea). Foi aí que começou minha mudança de chave durante o tratamento”, lembra.
André percebeu que precisava ser protagonista de sua própria luta. “Imagine saber que a chance de encontrar um doador compatível no Brasil é de 1 para cada 100 mil cadastros. Foi um choque”, admite. A família, então, iniciou com amigos uma grande campanha de solidariedade.
Nas redes sociais, a história ganhou repercussão. A comemoração do primeiro ano de vida do filho, Davi, aconteceu no hospital, o que reforçou ainda mais sua determinação. A esposa de André passou a participar de campanhas de doação de sangue. Em uma delas, colocou a placa “Caçador de Medula” ao lado do filho. A imagem viralizou e ajudou a disseminar informações sobre o transplante, incentivando novos cadastros de doadores.
Em 2019, André conseguiu realizar o transplante graças a uma doadora dos Estados Unidos. Desde então, não abandonou a corrente de solidariedade que salvou sua vida. Criou a página Caçadores de Medula, que hoje reúne mais de 25 mil seguidores no Instagram e transmite a mensagem de que “a jornada contra o câncer pode ser leve”.
“O que nasceu inicialmente por uma causa pessoal, para aumentar minhas chances, também deu oportunidade a outros pacientes”, afirma. “É impossível separar o André da causa da doação de órgãos e tecidos”, completa.
Neste ano, André celebra o fato de a 23ª edição da Doe de Coração, realizada pela Fundação Edson Queiroz, mantenedora da Unifor, ampliar o foco para o cadastro de doadores de medula óssea, sem deixar de reforçar a importância da doação de órgãos e tecidos. “É sensacional, muito oportuno. A doação de medula pode ser feita em vida e mais de uma vez”, ressalta.
Daniela Monteiro, que coordena o curso de Biomedicina da Unifor e a campanha deste ano. Foto: Ares Soares
Daniela Monteiro, coordenadora do curso de Biomedicina da Unifor e da campanha de 2025, explica: “A doação de medula ainda é cercada de desconhecimento e mitos. O objetivo deste ano é informar, desmistificar o processo e incentivar que mais pessoas se cadastrem. Ao mesmo tempo, reforçamos a importância da doação de órgãos e tecidos, mostrando que cada gesto de solidariedade pode salvar vidas e transformar histórias.”
Para ela, liderar a campanha é uma experiência transformadora. “Ver alunos, professores e a população envolvidos renova nosso compromisso com a educação, a saúde e o futuro. É uma honra coordenar uma iniciativa que une ciência, empatia e solidariedade”, destaca.
Transplantes no Brasil
O Brasil tem o maior programa público de transplante de órgãos, tecidos e células do mundo. O Sistema Único de Saúde (SUS) financia cerca de 95% dos procedimentos no país. Em números absolutos, somos o 2º maior transplantador do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.
Os pacientes brasileiros recebem assistência integral e gratuita, exames preparatórios, cirurgia, acompanhamento e medicamentos pós-transplante pela rede pública. O Dia Nacional da Doação de Órgãos e Tecidos, celebrado em 27 de setembro, foi instituído pela Lei nº 11.584/2007 para estimular a conscientização e o diálogo entre familiares sobre o tema.
Doações no Ceará
O Ceará superou, em 2024, a marca de dois mil transplantes de órgãos e tecidos em um único ano. Foram realizados 2.029 procedimentos, contra 1.763 em 2023, abrangendo todas as modalidades. É a primeira vez, desde o início dos transplantes em 1998, que o Estado alcança esse patamar.
“Parabéns aos nossos profissionais de saúde pelo esforço e dedicação. Esse crescimento é resultado das ações voltadas a impulsionar as captações no interior do Estado, com destaque para os hospitais regionais do Cariri (HRC), Sertão Central (HRSC), Vale do Jaguaribe (HRVJ) e Norte (HRN)”, comemorou o governador Elmano de Freitas.
O Social Esporte Clube tem o apoio de: Governo do Estado do Ceará – Cuidar das pessoas, avançar o Ceará.